Recipientes

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Há algum tempo eu estava refletindo sobre os problemas e como as pessoas lidam com eles.

 

Parece que é natural julgar as dificuldades dos outros. Quando nos contam alguma coisa, frequentemente pensamos: “Ah, não precisava de tanto sofrimento, isso nem é uma questão tão grande!”, “Nossa, porque você está chorando tanto? Só por causa disso?”, “Eu no seu lugar lidaria com esse problema de uma forma diferente, nem é tão complicado”, “Como você consegue ficar tão bem com o término do namoro? Eu ficaria super mal”, “Sério que você não vai nem chorar por isso? Nossa, que pessoa sem sentimentos…”, dentre tantas outras frases de julgamento existentes por aí. Quase sempre olhamos os problemas dos indivíduos ao nosso redor e imaginamos que o certo consiste no nosso modo de lidar com aquilo.

 

A partir dessa reflexão, pensei que talvez as coisas funcionem mais ou menos assim: seria como se cada pessoa tivesse um recipiente junto à sua mente; o recipiente pode ser um balde, um copo, uma jarra, uma colher, uma concha, enfim, um local para guardar seus próprios problemas, sentimentos e situações de dificuldade. Esse recipiente não possui um tamanho universal, ou seja, ele é diferente para cada indivíduo do universo. Os recipientes são ajustáveis e moldáveis de acordo com as vivências e experiências das pessoas; não significa, por exemplo, que alguém que tenha um recipiente maior seja mais maduro, ou que alguém que tenha um recipiente pequeno não tenha dificuldades.

 

Vamos supor que um ser humano está vivendo uma fase em que seu recipiente é um balde; essa pessoa encontra um outro indivíduo que, no momento, possui uma colher como recipiente. A pessoa-colher e a pessoa-balde possuem seus respectivos recipientes devido à diversas situações que passaram e passam durante a vida. Mas, como mencionado, os recipientes podem ser moldáveis de acordo com o momento e sentimento de cada pessoa; por isso a colher, algum dia, pode virar uma concha e o balde, por um momento, pode se transformar em um copo.

 

Imagine que, em certa ocasião, essas duas pessoas tenham reprovado no vestibular; pode ser que para a pessoa-balde o problema tenha a importância de uma gota de água, que quase desaparece ao ser derramada no balde e fica minúscula comparada à proporção do recipiente. Talvez para a pessoa-colher ter reprovado também signifique uma gota de água, mas que ao ser despejada na colher, preenche boa parte dela.
Não parece lógico a pessoa-balde dizer para a pessoa-colher que ela não deveria quase transbordar com esse problema, ou que ela está exagerando, ou que é desnecessário tanto sofrimento. Assim como a pessoa-colher também não tem o direito de julgar a proporção do problema para a pessoa-balde. A mesma gota de água pode ter tamanhos e dimensões diferentes para cada indivíduo. Esse movimento (de julgar o tamanho dos problemas das pessoas) acontece com a gente quase que o tempo todo, parece que o nosso escutar é atrelado ao nosso julgar; mas na verdade não é, ou pelo menos não deveria ser.

 

Aos poucos vamos entendendo as coisas, pois os aprendizados são gradativos. A gente percebe que não tem problema nenhum transbordar, inclusive é natural e muitas vezes necessário, para esvaziar um pouco. Não tem problema também ter uma colher de chá no quesito relacionamentos amorosos e uma jarra de suco no quesito estudos, por exemplo. Podemos ter recipientes diferentes para cada situação das nossas vidas.
Enfim, não é preciso uma régua para medir os problemas ou os recipientes; nós somos seres humanos e não formas geométricas. Justamente por sermos humanos, precisamos buscar e cultivar a nossa empatia, para tentar não julgar tanto as atitudes dos outros nem as nossas próprias atitudes. Sabe… Talvez a leveza seja o ponto principal para tudo isso.

 

Por Bruna Colmann